POETIZOU 42 – COMMELINA
COMMELINA
• Autoria de Thaís Kafuri Santana, acadêmica do curso de Bacharelado em Direito da PUC Goiás e Membro da Liga Acadêmica de Acessibilidade ao Direito (LAAD).
Em um dia de queima,
presa entre duas constelações no solo, eu sinto as ervas daninhas cutucarem meus pés.
Parecem flertar comigo, me contando que eu sou a próxima flor a ser sequestrada por elas.
E eu ouço seus segredos sobre quem passou por perto.
A descrição de todas as lágrimas que suas sementes já provaram e a sensação de estarem enjauladas entre as rochas que as apoiam.
Sobre como é difícil fazer a luz chegar em lugares escuros.
Mais complicado que isso é tentar alcançá-la.
Somos marginalizadas, eu e elas, e nascemos viradas ao contrário. De dentro para fora.
E quando contam como é mais fácil ser pisada por desastrados ingênuos do que crescer,
eu digo que entendo muito bem.
Minha dificuldade é ler as pegadas.
Achar o caminho sem me perder nos trilhos do trem.
Desvendar essa estrada cheia de buracos sem cair em nenhum.
Evitar por pouco de mãos ansiosas e pragas viciosas.
Sentir as tesouras em minha garganta, preparadas para poda.
(eles têm medo de serem consumidos por mim e eu também)
Só para desviar no último momento possível.
Não sei o que é pior.
Estar presa no solo ou ter que seguir em frente.