HEDERA

• Autoria de Thaís Kafuri, Coordenadora de Ensino da Liga Acadêmica de Acessibilidade ao Direito (LAAD) e acadêmica de Direito na PUC Goiás.

O amor cresceu.
O mesmo que eu cultivei em um brotinho incerto e meio feio, amarelo de medo e em um solo infértil.
Em uma terra lamacenta que puxa tudo para si, uma areia movediça escondida na floresta que sequestra o que ousa florescer.
Um trenzinho de nada com folhas retraídas e uma corcunda que entrega todo peso que estava sobre ele.
É que eu lhe arremessei um desespero de mil quilos para que caísse do ápice de um penhasco e me fizesse sentir tudo de uma vez.
Para que fosse um amor que me tirasse o ar e me desse noites de insônia que nenhuma camomila conseguisse curar.
Como todo jovem, o amor era inquieto, ansioso e exagerado. Um corte profundo do qual a seiva nunca cessa, a clorofila pintaria meu rosto de verde e me transformaria em uma amazona que se deliciaria com toda a vertigem de se subir um cipó de uma figueira sem ferir as mãos em madeira.
Exceto que não era uma figueira, era um brotinho. Também não era um brotinho de figueira.
Para falar a verdade, o amor virou uma planta que eu não conhecia.
Cresceu em minha pele como erva, e faz sombra por onde eu passo.
Me protege do sol e da chuva e me pego surpresa porque não faço mais força para carregar nada.
Não é para essa leveza que eu tinha preparado minhas mãos, os desenhos de guerra já não são mais familiares para mim.
Os calos já não me trazem o mesmo conforto que traziam antes e o calor dos incêndios que eu ansiava já não queimam a pele.
A ira da floresta se dissipa em um sopro quando cessaram os rugidos dos animais em minha cabeça que berravam em minha desonra.
Não prendo meus pés em raízes traiçoeiras, ansiando cair.
Na verdade, quando sinto o solo, consciente de estar na terra, de ser terra, de ser erva costeira beijada pelo sal que entrega vida, as árvores finalmente me olham, convidativas, e suspiram:
“Bem-vinda ao lar.”