RESENHA CRÍTICA: LARANJA MECÂNICA
RESENHA CRÍTICA: LARANJA MECÂNICA
O QUE FAZ AMADURECER
Autoria de Lúcio Marcos Granado Júnior, acadêmico do curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e Diretor de Finanças da Liga Acadêmica de Acessibilidade ao Direito (LAAD), e de Nadine Mureebe Machado, acadêmica do curso de Direito da Universidade Federal de Goiás e Membro da Liga Acadêmica de Acessibilidade ao Direito (LAAD).
Então, o que é que vai ser, hein?
O livro “Laranja Mecânica”, escrito por Anthony Burgess, faz parte de uma conhecida trindade distópica que coroa a ficção científica do século XX. O livro de Burgess divide com “1984”, de George Orwell, e “Admirável Mundo Novo”, de
Aldous Huxley, a honra de criar um dos cenários mais apocalípticos da literatura de todos os tempos.
No entanto, diferente dos outros dois, Burgess extrapola elementos sociais específicos, como gangues e o sistema penitenciário, em vez de propor uma alteração completa na sociedade, tornando, assim, o universo de Laranja Mecânica mais próximo da realidade, até porque a violência, ainda hodiernamente, está bastante presente e acentuada no cenário global.
Diante disso, vale ressaltar que essa não é a melhor opção de leitura para os mais sensíveis, porque é inegável que o autor se dedicou ao máximo para expressar com clareza toda a dor causada e sentida por seus personagens, tornando-se, portanto, muito eficiente nessa perspectiva. Desse modo, o leitor que se permita absorver todas as sensações trazidas em cada página do livro, poderá ter uma amarga experiência até chegar ao fim.
Nesse diapasão, o livro te propõe a acompanhar um personagem-narrador chamado Alex, que aos 15 anos é um covarde estuprador, ladrão e assassino, e que sente não haver nada no mundo capaz de parar toda a sua energia para causar o terror. Contudo, essas nem sequer são as únicas estranhezas que o personagem pode causar ao leitor, pois Alex é também puramente mau, e não precisa de nenhum motivo para ser assim o tempo todo. Ou melhor, em quase todo o tempo, pois há um único feixe de luz em sua alma para lembrar ao leitor que ele ainda é um humano: o seu amor absoluto pela música clássica.
A índole que Alex possuía aos 15 anos faz dele um exemplo do que um bom cidadão deve repudiar. E, sendo ele um exemplo perfeito do que é um homem ruim para o Estado distópico do livro, Alex recebe a seguinte “regalia” na prisão: é proposto a ele que sirva de cobaia para um tratamento experimental onde se esperava “retirar” dele a capacidade de fazer o mal para o outro em troca da sua liberdade.
Nesse momento, é possível compreender que, embora o rapaz represente o mal absoluto e isso cause prejuízos para a sociedade, Alex é muito mais inocente que cruel. Ele não tem maturidade o suficiente para não viver de modo “win or wall”, olhar além do que é imediato, e perceber o verdadeiro preço de suas escolhas, principalmente sob a perspectiva de tudo o que abdica quando as faz de maneira tão inconsequente.
Ademais, o tratamento retira de Alex a capacidade que ele possui de fazer o mal aos outros e também retira dele o seu gosto pela música clássica, o único resquício de luz em sua alma, por isso, agora, o rapaz é como uma serpente sem as presas sendo humilhada em uma praça pública, ou como um leão acorrentado no picadeiro de um circo ouvindo as gargalhadas da plateia. Alex é solto da prisão, mas não pode mais ser livre porque é agora mecânico.
Vale destacar que o livro apresenta ao leitor uma oportunidade ímpar de mergulhar-se no fundo poço da realidade, abandonando a pomposidade do culto a verdade mais verdadeira. Mastigue: Se um dia algum ser de outro mundo encontrar a Terra, esse pequeno ponto azul perdido no universo, e escolher abrir um julgamento para decidir se a vida humana vale à pena, seria muito difícil advogar pela humanidade. Se um dia a inteligência artificial fizer das máquinas mais dominantes que os homens, seria muito difícil convencê-las que a vida humana possui algum bom significado.
Tudo que o homem tem é uma oportunidade de, sob suas tolas presunções, viver. Por isso, esse livro ensina que convém a todos, de agora até o último suspiro, lembrar-se da sua pior fase, enquanto ainda estava tão perdido, e de todos os perdidos que passam por sua história. Amar, perdoar e seguir. Sem jamais deixar de lado ou sentir vergonha de ser assim: Uma laranja única e orgânica. E o tempo… Oh tempo! Já dizia Shakespeare: “embora sejas mau, velho tempo, e apesar dos teus erros, meu amor permanecerá jovem em meus versos”. Não tenhas medo de ser um adulto porque os adultos também erram, e choram, e sofrem, e têm muito medo. Até porque, na hora final, todos estarão sozinhos. Todos contra si. Mas isso não torna a vida tão dura que não possa valer. Se tens de crescer, cresça. Se tens de mudar, mude. Só não se esqueça tu de quando foste um pequeno Alex. E aquela kal total.
Então, o que é que vai ser, hein?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BURGESS, Anthony. Laranja Mecânica. 3. ed. São Paulo: Editora Aleph. 2019. m