RESENHA CRÍTICA: SOBRE A BREVIDADE DA VIDA
RESENHA CRÍTICA: SOBRE A BREVIDADE DA VIDA
PARA FALAR SOBRE A VIDA VIVIDA E TODAS AS OUTRAS
Autoria de Lúcio Marcos Granado Júnior, acadêmico do curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e Diretor de Finanças da Liga Acadêmica de Acessibilidade ao Direito (LAAD).
Tratado como um livro, “Sobre A Brevidade Da Vida” é, na verdade, um ensaio moral composto por Sêneca, para um amigo e para todos.
Para começar, é preciso entender que um ensaio moral não busca enquadrar a forma em uma forma ou assadeira, é uma extensão do próprio autor, por isso se faz necessário conhecer um pouco mais sobre a pessoa que foi Sêneca, para enfim ser entendido o verdadeiro valor de suas palavras nessa obra.
Nascido no ano 4 a.C., Sêneca primeiro foi uma criança que aos 3 anos foi enviada a Roma para estudar oratória e filosofia. Ao certo, ele dedicou muito a tais estudos, e pagou tal investimento com sua boa saúde, fato que, em anos mais tarde, o levou ao Egito para se recuperar, para assimilar, e talvez se desconectar. Após esse período, retorna a Roma, agora com 34 ou 35 anos, e inicia sua carreira como orador e advogado. Não demora, e Sêneca começa a chamar a atenção por sua capacidade e inteligência, e assim logo chega ao senado, o topo, o auge, o lugar dos homens notáveis. Sêneca venceu. Entretanto, como Nietzsche nos ensinou, "A vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo", e Sêneca é acusado de ter cometido adultério com a sobrinha do imperador, sentenciado a ser exilado na ilha de Córsega, a maior ilha da França, localizada a 406 km de Roma. Sêneca perdeu.
Outrora, dessa vez em menores detalhes, Sêneca torna-se conselheiro de Nero, o imperador de Roma, e outra vez estava no topo, mas novamente as voltas do mundo lhe derrubam. Dessa vez, Sêneca é condenado a se matar, e o faz cortando os pulsos na presença de seus amigos, que relataram haver serenidade em seus olhos.
Em “Sobre A Brevidade Da Vida”, Sêneca expõe o que ele acredita caber dentro de uma vida, que, segundo ele, não deve ser medida por tempo, nem pelas riquezas adquiridas ou gastas, nem pela trajetória ou legado. A vida vivida é aquela que leva um homem a morrer em paz, pois quando se chega aos últimos instantes de luz, é que se sabe o valor da vida.
Os ensinamentos de Sêneca serão interpretados de maneiras diferentes para cada autor que se encontrar com essa obra, por isso torna-se injusto responder por ela, até porque os seus pensamentos ainda estão vivos e ecoando por eras afins, e nesse momento são tão atuais quanto se tivesse sido escrito nessa mesma noite de agora.
As ideias de um homem que viveu muitas vidas em uma só, na incessante busca por viver a melhor vida possível, tratam também de um convite que é tantas vezes recusado por todos: o de olhar para dentro de si. Talvez, a confusão causada pela pressa e pela ansiedade, ou talvez por conta do vazio existencial, quem sabe por conta dos mistérios da natureza humana, tudo isso pode fazer de um homem um desesperado. Pode ser que o inferno esteja no próprio homem, mas como descobrimos com Dante Alighieri, é preciso atravessar o inferno para chegar ao paraíso, e a única certeza, afinal, é que no final todos morrerão, estando em paz ou não.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SENECA. Sobre a Brevidade da Vida. 1. ed. São Paulo: Penguim, 2017.